27 de agosto de 2021 Ouvir o texto
No 10º encontro do programa Conversas sobre Educação para uma Cidadania Global Significativa, o tema do debate foi “A educação para cidadania global como vetor de transformação da escola”. O webinário contou com a participação de Pedro Sáez, professor de Geografia e História da Arte em escolas de Ensino Médio, em Madri, na Espanha; Rui Marques, diretor do Instituto Padre António Viera e da Academia de formação de líderes UBUNTU, em Portugal; e Yenifer López Ramos, educadora e membro do Movimento por uma Educação Transformadora e pela Cidadania Global. A mediação ficou sob responsabilidade de Cecilia Barbieri, diretora do Escritório Regional de Educação para América Latina e Caribe da UNESCO.
Ao iniciar a conversa, Cecilia se referiu ao tema do webinário com uma frase que capta parte da visão da Unesco sobre cidadania global: “O futuro da cidadania está ligado ao futuro da democracia e da coesão social”. Assim, o futuro das novas gerações só pode ser abordado a partir de uma comunidade unida por um forte tecido social. Para a Unesco, os debates atuais sobre cidadania global estão intimamente ligados a uma das metas da Agenda 2030, conectando claramente a educação a um propósito social, humanista e moral. A educação deve, portanto, ser uma responsabilidade compartilhada e deve ter um compromisso transformador.
Transformar a prática educacional e a capacitação de professores
Pedro Sáez iniciou sua fala prestando uma homenagem ao escritor e pedagogo Gianni Rodari, especificamente ao livro “Gramática da fantasia”. Para isso, contou uma história na qual uma menina frequentemente atrapalhava o pai chamando-o para brincar. O pai, então, encontrou uma atividade para entretê-la por muito tempo: cortou um grande mapa em muitos pedaços e pediu que ela reconstruísse. Após dez minutos, a menina voltou com o grande quebra-cabeça terminado. O pai, perplexo, se perguntou como ela conseguiu, e a menina explicou que no verso do mapa tinha o rosto de uma menina, o que tornou a montagem mais fácil.
Pedro utilizou essa história para fazer uma analogia e sugerir que as pessoas devem aprender a agir como a menina, a olhar para o outro lado, sem regras fixas, imaginando o lado avesso das aparências, questionando as instruções recebidas, trabalhando com perseverança e paciência. “A imaginação deve ser um pilar básico da educação, que nada mais é do que abrir todas as janelas possíveis para os jovens. Educar na globalização é fazer com que nossos alunos sintam, pensem e deem valor e vida ao mundo que está na esquina”, afirma.
A metodologia ubuntu para formar líderes a serviço da comunidade
A metodologia que a Academia de Líderes Ubuntu apoia é inspirada pelo conceito africano da palavra ubuntu: eu sou porque você é; só posso ser uma pessoa através de outras pessoas. Em outras palavras: interdependência; o conceito de “eu me relaciono, logo, existo”. “Em um mundo fraturado, polarizado e dominado por muitos medos, o Instituto Padre António Viera trabalha para formar jovens que sabem como se unir, servir e cuidar dos outros e de seu entorno”, destacou Rui Marques.
Segundo ele, a metodologia possui três princípios básicos: liderança serviçal, ética do cuidado e construção de pontes para a cidadania global. Também têm um forte impacto nas habilidades socioemocionais: autoconhecimento, autoconfiança, resiliência, empatia e serviço ao próximo.
A Academia busca inspirações em personalidades como Mandela, Madre Teresa e Luther King, mas qualquer um pode ser um modelo exemplar. “As histórias de vida pessoal são de grande importância em sua metodologia, são uma força inspiradora para os outros, e são uma força interior para cada indivíduo, um motor de transformação e mudança”, explicou Marques.
A metodologia Ubuntu, que está disponível para qualquer pessoa que deseje aprendê-la, já foi desenvolvida em 58 países dos cinco continentes porque parte do princípio de que a humanidade é uma única família e, portanto, trabalha para a construção da cidadania global como algo comum e diverso.
Traços transformadores em uma escola
Yénifer López, a partir da experiência das diversas organizações que compõem o Movimento para a Educação Transformadora e Cidadania Global e seu trabalho em muitas escolas, apresentou quais devem ser as 15 características de uma escola transformadora de educação para a cidadania global, agrupadas em três blocos.
Yénifer também compartilhou que após uma pesquisa e sistematização de experiências realizadas em conjunto com a Universidade de Santiago de Compostela, em escolas que estão aplicando metodologias transformadoras sobre cidadania global, chegaram aos seguintes fatores-chave nos processos de transformação:
“Todos os envolvidos em processos educacionais devem agir como agentes educacionais transformadores. A educação não é apenas uma proposta pedagógica, mas também uma proposta ética (baseada em uma visão da pessoa e da sociedade) e uma política (é uma educação comprometida com o bem comum e orientada para a transformação social)”, finalizou.
Diálogo
Diante da pergunta sobre qual é o desafio da educação transformadora para ocupar um lugar na formação de professores e nas escolas, Pedro Sáez assegurou que a chave está na transição da pedagogia para a didática, das teorias pedagógicas para a ação educativa. “A sala de aula deve ser o lugar privilegiado para a ação. O problema não é apenas ensinar a pensar, mas também a agir, para que o que se pensa possa ser aplicado. O pensamento deve levar a decisões, a passar do discurso à ação”, defendeu.
Sobre como as habilidades socioemocionais são trabalhadas nas academias Ubuntu, Rui Marques comentou que questões como autoconfiança, autoconhecimento, resiliência e empatia são fundamentais na metodologia para capacitar os jovens, ajudando-os a tomar suas próprias decisões e assumir compromissos.
“Além disso, há duas questões importantes que também são reforçadas na metodologia ubuntu. Por um lado, a conexão e a interdependência. Sentir que o que fizermos juntos determinará o futuro. Os jovens devem sentir que são uma parte fundamental da cidadania global, que são cidadãos conectados e interdependentes. E, por outro lado, a esperança. Diante de um presente cheio de medos e incertezas (tão claramente manifestado com a atual pandemia), devemos dar aos nossos jovens esperança no futuro. Somente se acreditarmos em algo melhor para o futuro, poderemos trabalhar para isso”, destacou Marques.
Yénifer, por sua vez, comentou que, além disso, nas salas de aula devem ser ensinados a participar ativamente como cidadãos. Os jovens devem aprender a conectar conceitos teóricos com a prática experiencial, com seu cotidiano, com sua vida. “Se os estudantes são informados sobre voluntariado, devem receber os meios para se tornarem voluntários ativos em seus próprios entornos e contextos”, defendeu.
Para concluir, Pedro afirma que o voluntariado e a aprendizagem-serviço devem fazer parte do processo educacional dos jovens, pois são duas metodologias transformadoras, participativas e que oferecem um serviço comunitário.
Perdeu os seminários anteriores? Neste link é possível rever como foram os primeiros encontros, além de conferir o tema do próximo webinário.
Assista ao webinário completo:
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