16 de dezembro de 2016 Ouvir o texto
Os desafios e impactos promovidos pela globalização, no século 21, vão além dos setores da economia, da tecnologia e da política internacional. Isso é o que mostra a pesquisa conduzida pelos diretores da Iniciativa Global pela Inovação na Educação de Harvard, Fernando Reimers e Connie Chung, no livro recém-editado pela Edições SM, Ensinar e aprender no século XXI – Metas, políticas educacionais e currículos em seis nações. “O campo da educação não tem se mostrado imune a essa turbulência, com rápidas mudanças ocorrendo tanto dentro como fora dos sistemas educacionais tradicionais: o advento do ensino online customizado no plano mundial, por exemplo, parece tornar permeáveis os limites das instalações escolares e até mesmo dos estados nacionais; a ideia de uma certificação de competência na educação introduz novas possibilidades num sistema movido, em grande medida, por promoções acadêmicas automáticas cm base na idade; e tanto a necessidade de ‘aprender a aprender’ como a demanda por uma educação relevante para a vida estudantil são mais prementes do que nunca e faze das rápidas mudanças que vêm ocorrendo no mundo”.
Em entrevista ao site da Fundação SM, Fernando Reimers fala sobre o impacto do processo de globalização na educação, além de compartilhar dados, reflexões e conclusões da pesquisa empreendida no Chile, China, Índia, México, Cingapura e Estados Unidos.
Esta entrevista foi dividida em duas partes. Publicaremos a continuação na próxima semana.
Qual é a origem do Programa de Investigação da Iniciativa Global pela Inovação na Educação?
Fernando Reimers – Durante três décadas de trabalho, pesquisando e assessorando governos e instituições educativas sobre como expandir as oportunidades educativas para crianças e jovens mais vulneráveis, minha compreensão do que significa oportunidade educativa evoluiu gradualmente. Inicialmente, entendia como oportunidade educativa dar acesso aos estudantes e apoiar as escolas a melhorar com maior efetividade.
No final dos anos noventa, como resultado de um estudo sobre oportunidades educativas na América Latina, esta compreensão foi ampliada e passou a incluir a relevância da educação. O pensamento deu origem a uma década de trabalho, em que estudei de que forma as escolas podiam preparar os estudantes para a participação cívica em sociedades democráticas.
A atuação em educação para o exercício da cidadania democrática se estendeu à pesquisa e ao desenvolvimento de programas para promover a cidadania global. Sobre esta base, compreendi que é fundamental que a educação empodere o jovem para cuidar de sua própria vida e para melhorar o mundo. Esse é o alicerce sobre o qual desenvolvi a Iniciativa Global pela Inovação na Educação.
Como foi estruturada e quais são os objetivos da Iniciativa Global pela Inovação na Educação?
Fernando Reimers – A iniciativa integra três linhas de trabalho: pesquisa, construção de diálogos informados e desenvolvimento de ferramentas, que permitam fortalecer a capacidade da escola pública de oferecer uma educação relevante no século 21. O objetivo da iniciativa é ampliar o conhecimento sobre a forma como as escolas públicas oferecem aos jovens a oportunidade de desenvolver competências, que vão transformá-los em arquitetos de suas vidas e contribuir para a melhoria das comunidades das quais fazem parte.
Quais foram os critérios de seleção dos seis países participantes da pesquisa?
Fernando Reimers – Convidei a integrar este consórcio um conjunto de instituições de diversos países – Brasil, Chile, China, Colômbia, Índia, México, Cingapura e Estados Unidos. A seleção incluiu critérios como a identificação de países com uma porcentagem significativa de alunos em idade escolar; países em que a educação fosse uma prioridade política; países em que encontrássemos uma instituição que compartilhasse nossas metas e visão sobre como apoiar a melhoria da educação pública.
Entre os trabalhos de pesquisa que temos realizado se encontra um estudo das normas nacionais no Chile, China, Índia, México, Cingapura e Estados Unidos; e uma avaliação acerca de como estes países refletem uma visão mais moderna sobre quais são as competências que empoderam os jovens.
Quais são as semelhanças e diferenças entre as práticas pedagógicas e políticas públicas de educação realizadas nesses países?
Fernando Reimers – A educação pública tem uma origem e objetivos comuns em todos esses países, e boa parte da estrutura do currículo é semelhante. Em todos se enfatiza o desenvolvimento de competências cognitivas, nas áreas da linguagem, matemática e ciências. Em todos eles, também os objetivos do currículo foram ampliados na última década, na busca por maior ênfase no desenvolvimento da capacidade de conhecer e poder governar a si mesmo, e das capacidades de colaborar com os demais e liderar. Com esta ampliação nas metas do currículo, aumenta também a percepção de que a escola pública é deficiente para satisfazer as expectativas que existem sobre ela. Isso leva diversos grupos ao abandono da escola pública em busca de opções privadas para substituir ou complementar a formação.
No entanto, descobrimos também que, em todos os países, existem inovações significativas, que procuram oferecer uma formação mais integral, que promova o desenvolvimento simultâneo de capacidades cognitivas, de personalidade e de capacidades sociais e de liderança. Achamos que é muito importante estudar essas iniciativas e, a partir do conhecimento derivado de seu estudo, construir oportunidades de melhoria para a maioria das escolas públicas.
Que mudanças são necessárias no escopo da escola para assegurar aos estudantes a oportunidade de contribuir e atuar em um mundo globalizado?
Fernando Reimers – Estabelecer uma relação mais estreita entre o que se aprende na escola e os acontecimentos que os alunos experimentam em suas vidas, que reflita um mundo cada vez mas integrado como resultado dos desenvolvimentos tecnológicos. A globalização em si é um processo inevitável e que oferece oportunidades de melhorias humanas, mas que não, necessariamente, tem oferecido a todas as pessoas as mesmas oportunidades. Esta é a razão pela qual alguns grupos rejeitam a globalização, como se viu nas eleições do Brexit, na Grã-Bretanha, e na recente eleição presidencial nos Estados Unidos. É por isso que a educação para o desenvolvimento da cidadania global é essencial, para permitir que os jovens compreendam o mundo em que vivem – altamente globalizado –, e para que possam fazer da globalização uma oportunidade para a melhoria do bem-estar humano, da sustentabilidade ambiental e da paz.
Por Priscila Fernandes
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